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quinta-feira, 20 de maio de 2010

Jorge Amado Atemporal

A estação do metrô estava repleta. Odeio ter que pegar fila para comprar passagem depois da aula. Minha sorte hoje, foi que a Fernanda estava comigo e enquanto a fila andava vagarosamente fomos papeando.
-Você viu aquela biblioteca nova do governo lá no Carandiru?
-Ah, é, esses dias eu passei por lá e dei uma olhada, mas ainda não tive tempo de visitar...
Combinei com ela de irmos um dia juntas, pois eu, particularmente, achei a biblioteca incrível. E a Fernanda que gosta de livros tanto quanto eu, vai aodorar, tenho certeza.
-Então, fui lá fazer a minha ficha e tava vendo alguns livros quando achei esse aqui do Jorge Amado, olha que interessante.Tirei o livro da bolsa e mostrei a capa a ela. Confesso ter ficado surpresa com a reação dela que inesperadamente espantada tomou-se o livro da mão.
-Ah, não! Você está lendo Jorge Amado?
Eu a fitei com expressão curiosa, afinal qual era o problema em estar lendo um livro do escritor Jorge Amado?
-Ai, nada haver ler isso. - ela olhava para o livro com repulsa - O cara só falava de macmba, mulheres da vida e vagabundos...
-Ah, nada haver com você, nem vem! Oh!, você com os seus preconceitos de novo.
-Preconceito nada, vai dizer qe não é isso mesmo?
-Não, nada haver. Já leu Capitães da Areia?
-Já, eu fui obrigada, pra fazer aquele bendito trabalho de sociologia e sinceramente, quer saber? Não gostei nem um pouco... Ah, cara chato repete uma coisa não sei quantas vezes seguidas, parece que sei lá...
-Ah, Fernanda, nada haver! Sabia que o baiano Jorge foi um dos maiores escritores do século XX? E ele ainda é uam grande referência, tá? Escreveu não sei quantos livros e...
-Ei, ei, ei, como assim o baiano Jorge Amado? Que intimidade toda é essa?
-Ah, isso mesmo. -eu disse dando com os ombros -Porque eu gostei de ler os livros dele e resolvi fazer uma pesquisa sobre a vida dele...
-Nossa. -disse ela me ignorando.
-Ah, e sabe o que eu descobri?
A fila andou mais duas pessoas, mas ainda faltavam umas quatro ou cinco a nossa frente. Então resolvi continuar com o assunto já que eu não podia acreditar na ignorância ultrapassada da fernanda.
Ele nasceu em Itabuna. -ela me escutava com indiferença - Itabuna lembra? Daquele trabalho degeografia que fizemos juntas sobre as zonas cacaueiras... -ela sentiu.
-Pois então, depois de algum tempo trabalhando em jornais ele foi para o Rio de Janeiro e fez faculdade de direito, só que ele nunca exerceu essa profissão.
-Nossa que legal. -disse ela irônica.
-Ai começou a publicar livros. Suas primeiras obras são explicitas denúncias sociais e é clara a sua preocupação com questões desse tipo.
-Eu sei. Ele participou do Partido Comunista Brasileiro, eu já vi isso em história.
Chegou a nossa vez na fila para comprarmos o bilhete.
É simplesmente inacreditável que você, mesmo já tendo lido várias coisas a respeito dele possa ter essa visão tão falta, tão parcialmente precária.
Passamos à catraca e descemos em direção ao trem.
-Só estou dizendo que não gosto do tipo de texto que ele escreve. Não acho legal todo esse excesso e valorização regional que ele dispensa à Bahia. Ele cria uma imagem do Brasil muito limitada, entende?
Entramos no vagão que lotou em um segundo. De pé no corredor segurei-me com força no poste.
-Tenho que me opor a sua opinião. -eu disse a Fernanda que se segurava desajeitadamente para não cair. -E não tem o livro Capitães da Areia, que você disse que leu?
-Hã?
-Sabe em que ano foi escrito?
-No século vinte. -respondeu ela sarcástica.
-Em 1937.
-Nossa! Mas é tão atual...
-Pois é. Uma das características de Jorge Amado é essa. Seus livros nunca ficam obsoletos, seus criticas ainda valem e infelizmente ainda existem vários capitães da areia por ai pelas ruas.
Pus-me a debater com ela a respeito do autor, sugerindo a principio alguns títulos e incluindo o meu que eu estava lendo. Ela relutava em aceitar as minhas indicações, mas por fim concordou comigo, pois Jorge Amado assim como muitos outros escritores da sua época foi um vencedor. Um grande exemplo, com suas obras adaptadas com sucesso para o cinema, teatro e para a televisão.
Saltamos na nossa estação e me despedi de Fernanda que pensativa refletia por certo em tudo o que conversamos. Fui caminhando em direção a minha casa, quando ela me chamou humildemente pensativa.
-Luiza? Sabe esse livro que você está lendo? -eu assenti e ela timidamente abaixou a voz, um pouco acanhada. - Será que... Depois que você terminar de ler, você... me empresta?
Rimos juntas, divertidas.
-É claro que sim. -eu disse e em despedi.
Na volta para casa fui pensando comigo: Ela vai adorar, tenho certeza!
Luiza Marina Cavalacante Santana Ferreira dos Santos
Aluna da 8ª série A/9º ano
EE Professora Carmosina Monteiro Vianna
Professor Orientador: Cristina Aparecida Sanchez

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